Com a ajuda de uma microcâmera, dois jornalistas se passaram por pacientes que tinham a intenção de se consultar. Após preencherem a ficha, a recepcionista, que evitava falar a palavra “aborto”, avisou que o o valor do procedimento era baseado no tempo de gestação.
Uma tabela, encontrada pela polícia durante a vistoria da clínica, comprovou que os valores do procedimento ilegal podiam variar de R$ 5 mil a R$ 20 mil.
Após pagarem a consulta, que na época custava R$ 120, os supostos pacientes passaram por uma psicóloga, que tentou convencer a produtora sobre a simplicidade do procedimento. “A gente é contra até o momento em que vemos a necessidade de fazer. Por isso não dá para pré-julgar ninguém”, disse a psicóloga.
O local funcionou de 1997 a 2007, quando a reportagem denunciou o procedimento ilegal. Três dias após a exibição da reportagem, a polícia invadiu a clínica e retirou de lá 9.896 fichas de mulheres que haviam feito aborto no local.
Neide Mota Machado
Após ser denunciada por formação de quadrilha, prática de aborto, ameaça e posse ilegal de arma, a responsável pela clínica ficou quase dois meses foragida. Neide foi encontrada escondida em uma chácara em Terenos, no interior de Mato Grosso do Sul, propriedade de uma delegada aposentada.
A médica ficou presa por quase 40 dias, até que seus advogados conseguiram um habeas corpus para que ela respondesse em liberdade.
Em entrevista à TV Morena, Neide justificou que realizava os procedimentos para que as mulheres “tivessem um lugar onde fosse bem feito”, já que , elas poderiam procurar um lugar ruim e morrer.
O Conselho Regional de Medicina abriu um processo contra Neide após a exibição da reportagem e deu dez dias para que ela se explicasse sobre as acusações.
Em liberdade, o depoimento de uma das funcionárias — que confessou a realização dos abortos — colocou a médica de volta no banco dos réus.
Antes do julgamento, marcado para fevereiro de 2010, no qual Neide e outras quatro funcionárias responderia por 26 abortos, a médica tirou a própria vida. Ela foi encontrada morta dentro de um carro.
A iniciativa integra as celebrações pelos 60 anos da TV Morena. As reportagens que marcaram a trajetória da emissora estão disponíveis na Globoplay, enquanto as publicações semanais no ‘Memórias TV Morena’ irão relembrar as principais coberturas dessas seis décadas de história.
G1